Convenção
Sobre O Direito De Ler Das Crianças
Da
Comunidade Dos Países De Língua Portuguesa
A difusão do livro e a
promoção da leitura são os principais objetivos do II Encontro De Literatura Portuguesa
Para Crianças de 7 a 14 anos.
As ações de mobilização
infanto-juvenil do II Encontro De Literatura Portuguesa Para Crianças da
Organização Neo Humanitarismo Universalista, ONH-U, em parceria com a
Secretaria Municipal de Cultura de Santos, Prefeitura de Santos e Consulado
Honorário de Portugal em Santos, almejam estimular o prazer da leitura entre as
crianças através de um novo conceito entre arte/brincadeira/literatura:
socializar para compartilhar o legado da língua portuguesa; visando a iniciação
ao desenvolvimento cultural; literatura como instrumento de humanização e
literatura para o resgate histórico da língua portuguesa.
A relação criança-livro é
brilhantemente justificada na obra “Breve História Da Literatura Para Crianças
Em Portugal”, da autora Natércia Rocha; “pensar nas crianças e nos problemas
com elas relacionados implica a necessidade de ter em primeira linha valores do
futuro; para elas tudo está no princípio, mesmo quando ao nascer se encontram
já na posse de fatores determinantes da evolução que se seguirá, ou se as
esperam situações fortemente condicionantes. Até essa luta individual e
inevitável com o trazido e o encontrado está no princípio. Mas como
perspectivar o futuro sem atender ao presente se é no presente que o futuro
firma raízes? Tudo quanto toca a criança deve portanto ser cuidado com
atenção e perícia para que não sejam gerados riscos ao desenrolar do futuro. Do
muito que cerca a criança, os livros constituem elemento atuante, tanto pela
presença como pela ausência. Desses livros – que são potenciais agentes
modeladores dos seres do futuro que são as crianças de hoje. (...) O futuro do
livro está nas mãos das crianças.”
A Literatura Portuguesa como
instrumento de humanização das gerações futuras na Comunidade Dos Países De
Língua Portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste.
AUTOR
HOMENAGEADO DO II ENCONTRO DE LITERATURA PORTUGUESA PARA CRIANÇAS
SIDÓNIO
MURALHA
Poeta:
1920 – 1982
Por
Fanny Abramovich
QUANDO TUDO ACONTECEU...
1920: Em 28 de Julho, Sidónio Muralha nasce na Madragoa, Lisboa,
filho do jornalista socialista Pedro Muralha. – 1941:Publica BECO,
poesia político-social. – 1942: Com a chancela do “Novo Cancioneiro”,
publica PASSAGEM DE NÍVEL, outros poemas de intervenção – 1943: Desembarca
no Congo Belga, em exílio voluntário. Ali chegará a ser diretor geral
daUnilever Internacional (SM estudara Ciências Econômicas e Financeiras
em Lisboa e, mais tarde, estudará Administração de Empresas na Universidade
de Louvain, na Bélgica). – 1944: Casa, por procuração (ela em
Portugal, ele no Congo) com Maria Fernanda d’Almeida. O casal terá quatro
filhos: Alexandre, José Ricardo, Beatriz e Mário Jorge.
– 1950: Durante umas férias em Portugal, SM promove a edição de
COMPANHEIRA DOS HOMENS, novos poemas político-sociais; e também do seu
primeiro livro de poemas para crianças: BICHOS, BICHINHOS E BICHAROCOS.
– 1960: Pressionados pela efervescência política, os Muralha se
afastam do Congo e, durante dois anos, irão morar em Bruxelas. Neste período,
contratado pela Unilever, SM viaja constantemente pelo mundo, prestando
assessoria econômica a mercados financeiros. Estagia e trabalha em Bofatá,
Guiné-Bissau, Ostende, Dakar, Londres e Paris. – 1961: SM chega
sozinho ao Brasil (a família virá mais tarde). Em São Paulo, com o escritor
Fernando Correia da Silva e o pintor Fernando Lemos (ambos portugueses) funda
a Editora Giroflé, que irá revolucionar e criar um novo padrão para as
publicações dirigidas às crianças. Apoio integral de intelectuais e artistas
brasileiros, sucesso de crítica e fracasso de bilheteria. – 1962: A
TELEVISÃO DA BICHARADA, poemas para crianças, chancela Giroflé, recebe o
I Prêmio da Bienal do Livro de São Paulo. Entretanto, SM continua trabalhando
para a Unilever no Brasil, prestando assessorias financeiras,
proferindo conferências pelo país todo. Sempre bem sucedido.
– 1963: SM publica OS OLHOS DAS CRIANÇAS. – 1974: Ao
embarcar para visitar o Portugal libertado, SM declara: “Voltar não voltarei.
Sempre lá estive.” – 1976: SM recebe o “Prêmio Meio Ambiente na
Literatura Infantil” pelo seu livro VALÉRIA E A VIDA.
– 1978: Falecimento de Maria Fernanda d’Almeida Muralha.
– 1979: SM recebe o “Prémio Portugal 79 – Livro para Crianças” pelo
seu HELENA E A COTOVIA. Casa com a médica obstetra Dra. Helen Butler, com
quem passa a viver em Curitiba. – 1982: A 8 de dezembro falece em
Curitiba, Paraná, Brasil. Sidónio Muralha (1) foi um dos
precursores do neo-realismo português com BECO (1941). Publicou 21 livros em
prosa (contos, um romance, ensaio e depoimento) e versos para adultos e 15
para crianças, por editoras portuguesas e brasileiras. É considerado um dos
melhores poetas para crianças em língua portuguesa.
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Aventuras Venturosas
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Perseguido
pela polícia política salazarista resolveu embarcar com Alexandre Cabral para
o Congo Belga. Como não falavam francês, contrataram uma professora com quem
treinaram arduamente uma conversa-padrão até decorarem todas as respostas,
sem se preocuparem em entender as perguntas... Com evidente surpresa,
conseguiram o emprego.
Sidónio era campeão de pingue-pongue e durante a
longa viagem marítima, mobilizou os passageiros para investirem em apostas na
sua performance com a saltitante bolinha branca. Vitorioso nas disputas
conseguiu algum dinheiro que o ajudou a se manter nos primeiros e difíceis
tempos de África.
Ele mesmo conta, do seu jeito saboroso, suas
primeiras experiências africanas e o desenrolar destas aventuras de exílio:
“Quando fui para o Congo, depois de uma
conferência de Bento de Jesus Caraça, acompanhado de Alexandre Cabral e
perseguidos pela polícia política, conseguimos um emprego, graças ao Soeiro
Pereira Gomes (2), nosso querido camarada e amigo, na Unilever
Internacional (quarto trust mundial, ironia do destino). Fui nomeado gerente
de uma loja em Bukavu. Um dia, de repente, apareceu de “Cadillac” um
indivíduo chamado Charles Jacquemart, o qual me perguntou que fazia eu ali
como gerente, pois, como português, eu deveria estar atrás do balcão, a pesar
cebola e batata e a cortar presunto. Pensei esmurrá-lo, mas isso
colocar-me-ia na situação de ter de regressar a Portugal, de onde, depois, o
Salazar nunca me deixaria sair. E decidi ir cortar presunto. Foram tempos
difíceis e dolorosos. Então, prometi a mim mesmo arrebatar o lugar a esse diretor-geral
que me havia ofendido. Segui cursos de especialização e freqüentava a
Universidade de Lovaina, sempre que ia de férias. Galguei setecentos e vinte
lugares e, sete anos depois, estava ao lado desse diretor-geral, como diretor
comercial. Quando ele foi de férias escrevi um relatório sobre as suas
atitudes desumanas, em relação ao pessoal, e acerca das inúmeras
irregularidades cometidas. De Londres, recebi uma carta a nomear-me
diretor-geral. Lembrei, mais tarde, a esse indivíduo que os portugueses eram
para ser arremessados atrás dos balcões e ordenei-lhe que saísse
imediatamente.
Escolhi o Brasil, sobretudo por causa da língua.
Mas não acredito na existência de coisa mais trágica que o exílio.”
Entre as altas finanças, a administração exigente
e a poesia chamante, viveu sempre de modo intenso e contrastante. Pulou, na
mesma semana, da floresta úmida para alguma metrópole sofisticada. Voou entre
a África e a Europa conseguindo pernoitar e produzir, em alguns dias
intervalados, na selva e Paris, em Bruxelas ou em alguma aldeola perdida.
Nunca perto da repetitiva monotonia...
Certa vez contou que fez: “em oito meses
oitenta e oito mil quilômetros de avião e vinte e sete mil de estradas ”supervisionando
várias equipes por todo o Brasil. Dizia e repetia enfaticamente: “A
disciplina, a economia de meios, o ordenar as ideias e emoções de maneira
harmoniosa e ao mesmo tempo direta, confundem por vezes no meu espírito
poesia e organização. Existe em organização uma necessidade de criatividade e
de pesquisa que não é incompatível com a poesia. As duas podem ajudar a
salvar o mundo».
Viveu intensamente. Viajou
incansavelmente. Organizou obsessivamente. Poetou constantemente.
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MEGAFONE NO BECO
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Com
pouco mais de 20 anos, em 1941, Sidónio Muralha publicou seu
primeiro livro - BECO - reunindo poemas de protesto social, de indignação com
a ditadura salazarista, incorporando-se ao neo-realismo que então se iniciava
e congregava poetas que ainda nem se conheciam, mas que bradavam - isolada e
convictamente - pela justiça.
Em 1942, veio PASSAGEM DE NÍVEL e em 1950
COMPANHEIRA DOS HOMENS, mantendo a sublinhação denunciante das injustiças,
soltando gritos raivosos com o descaso com os pobres, os velhos, os negros,
as mulheres. Odes indignadas e loas compassivas a todos os marginalizados.
Luís Carlos, jornalista aposentado, comunista de
carteirinha, se comove todas às vezes que relê algum destes poemas. Tem todos
estes livros (e mais os outros que nunca foram mui divulgados e
conhecidos...) em sua estante e em noites de insônia leva algum deles para a
sua cabeceira. Então, lê- meditativamente- até a aurora se anunciar ou o sono
chegar e o derrubar.
Maria Lúcia, professora liberal e liberada, não
segura seu espanto com a estereotipia gritona e gritante dos versos e
imagens. Leu por exigência escolar, fez a prova, declarou clara e
explicitamente a sua opinião e foi reprovada. No ano seguinte releu os mesmos
livros, elogiou no exame engolindo a sem-gracice e conseguiu a nota almejada.
Às vezes, apanha um volume na biblioteca pública, folheia, se detém aqui ou
ali e se pergunta o que Saramago ou o Álvaro Cunhal realmente diriam...
Sidónio Muralha fez várias profissões de fé. Uma
delas: “Escrever é participar.”
Mais maduro, em 1963 publicou OS OLHOS DAS
CRIANÇAS, 25 poemas embalados em requintado projeto gráfico. Neles se depara
com a tristeza infinda pela solidão e miséria das crianças espalhadas pelo
mundo. Desfilam garotos esfarrapados carregando o silêncio, despertando
mal-estares em “implacáveis paisagens” . Flashes líricos e
nostálgicos se mesclam com crianças indesejadas que “fustigam o rosto da
cidade.”
O jornalista Luís Carlos copiou com tinta preta e
letras imensas os versos que mais lhe tocaram deste livro e dependurou sobre
a sua escrivaninha para se recordar sempre da premência do
que deve fazer:
“Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas o que elas pedem é que gritemos por elas as crianças sem livros sem ternura sem janelas as crianças dos versos que são como pedradas.”
A professora Maria Lúcia se debruçou na janela e
cantarolou uma cantiga de antigamente. Lúdica, brincante, risonha. Depois,
mansamente caminhou até à sua estante, vasculhou e encontrou o que desejava
ler naquela exato momento. Se enroscou na poltrona aveludada e mergulhou nos
sonetos de Florbela Espanca...
Quase uma década depois, em 1972, Sidónio publicou O PÁSSARO FERIDO, reunindo muitos
poemas e poucas crônicas. Neste pequeno volume, vagueia pelas saudades e
reconhecimentos: dele mesmo, de cidades, amigos. Adentra por espantos
jubilosos: “Não tenho tempo para ter idade.”, por ternuras contidas, usa
de demolidora ironia com heróis pouco heroicos, ousa novas buscas.
No pórtico se lê outra profissão de
fé: “Nasci homem, antes de ser poeta. Minha poesia nunca trairá os
homens, meus companheiros. Se eles sofrem, ela, que faz parte de mim, sofre
com eles e tem movimentos de fúria e de raiva como os bichos encurralados.”
Pela primeira vez, o velho jornalista e a jovem
professora que nem se conheciam, concordaram.
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SÓ SABIA O SABIÁ
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Sidónio
cocoricou e começou a poetar para crianças. Em 1950 publicou BICHOS,
BICHINHOS E BICHAROCOS uma coletânea divertida, onde se a criança, espanta,
brinca, busca aliterações, segue brigas, surpreende. Verseja breve ou se
estende por poemas compostos por várias estrofes, sem temer que a
criança-leitora desista de chegar ao longínquo final...
Certa vez, perguntado, respondeu: “ Sempre
me interessei pelas crianças e dou tudo o que de melhor para dar quando
escrevo para elas...Quando escrevo, vejo desfilar imagens da infância que
gostaria de ter tido mas não tive, porque custava muito caro. Quero entregar
às crianças de hoje o que gostaria de ter recebido. Se não lhes dou mais e
melhor é porque não sei. É tudo.”
Audaciou, criou, brincou. Em A TELEVISÃO DA
BICHARADA, de 1962 - sem dúvida seu melhor livro - desconserta com os
inesperados risonhos:
“Boa Noite.
A zebra quis ir passear mas a infeliz foi para a cama
- teve que se deitar
porque estava de pijama.”
quebra os preconceitos, aplaude a miscigenação
(tão ao gosto luso), se encanta com o novo resultado:
“Se é branca a gata gatinha
e é preto o gato gatão como é que são os gatinhos?
- os gatinhos eles são,
são todos aos quadradinhos.”
produz o puro deleite ao narrar a oferenda, um
lenço colorido, que a girafa deu ao seu marido:
“Que alegria!
- disse o marido - ponha a pata nesta pata, com um pescoço tão comprido você não podia ter-me comprado uma gravata.”
Sempre humorado, abençoadamente politicamente
incorreto nestes momentos criançais, ludicamente conta a conversa entre dois
tatus gagos, descreve a imensidão do elefante ou o encantamento vaidoso do
cardeal ao ver sua própria imagem espelhada... Não é conivente com as
mentiranças natalinas e jocosamente adentra pelo sotaque espanhol dum peru
nascido no Peru, cujo destino fatal é conclusivo: “se não houvesse
Natais, haveria perus a mais.”
Nestes poemas, irresistível é o ritmo chamante,
bailante, sensual, convidativo para os olhos se debruçarem na
leitura e os pés e as mãos marcarem os pontos de parada e de andada.
“A floresta
acordada pela madrugada de um dia de festa abria a saia rodada”
ou
“partiu do canteiro
e o marinheiro partiu, partiu o navio, partiu o marinheiro.”
O velho jornalista Luís Carlos vagueou seguindo
seu cigarro aceso, espiralou a fumaça e quis que ela também lhe trouxesse a
suave boniteza reencontrada:
“ - mas do cachimbo saíram a voar
um colibri, dois colibris três colibris.”
A jovem professora Maria Lúcia festejou a alegria
e a poesia descobertas naquele doce e ocasional
momento e dizendo pela primeira vez:
“Era
um sábio o sabiá.”
sabendo que assim falava do sabiá Sidónio
Muralha, que até então tão mal conhecia e tão pouco sabia...
Em A DANÇA DOS PICAPAUS, lançado em 1976, Sidónio
continua encantando e provocando, num jogo inusitado entre vários
bicharocos , respostas inusitadas da criança-leitora. Propondo que ela faça a
prova dos nove se acreditar que a onça é um gato crescido, lendo anúncios
chorosos de quem enfrentou agruras dolorosas:
“Urso procura mel
que não tenha abelhas”.
chamando para o movimento contínuo ao se deixar
levar pela irresistível sonoridade:
“Quebra-se o ovo da rola
sai uma rola do ovo que bota um ovo de rola e tudo começa de novo.”
VOA, PÁSSARO, VOA, lançado em 1978, é a edição
portuguesa destes dois deliciosos livros poemais publicados no Brasil. Reúne
as 16 poesias da TELEVISÃO DA BICHARADA , outras 10 da DANÇA DOS PICAPAUS e
agrega dois inéditos... FILM EN COULEUR, de 1981, também reimprime
poemas da TELEVISÃO DA BICHARADA e alguns outros pedindo tradução urgente
para as crianças que - ainda - só leem em português.
Importante é assinalar que o parceiro visual, o
ilustrador e programador gráfico mais constante do poeta Sidónio foi o
artista plástico Fernando Lemos, também nascido nas terras lusitanas.
Em 1981, saiu a ciranda lírica TODAS AS CRIANÇAS
DO MUNDO e em 1983 O ROUXINOL E SUA NAMORADA onde- entre namoricos
passarinhais e de outros bicharocos, se estende a ternura, a procura da
liberdade e se reencontra, espalhados pelas páginas, os trocadilhos
divertidos, as aliterações inventivas, o ritmo chamante.
A professora Maria Lúcia sentiu subir a indignação.
Se perguntou e não conseguiu se responder porque seus professores, quando ela
era ainda uma criança, não leram os poemas infantis de Sidónio Muralha para
ela e seus colegas. Teria sorrido, se surpreendido, se espantado, se
divertido. Teria simplesmente adorado! Teria se iniciado antes nas delícias
da poesia... Festejou o que agora sabia. Sabia o que leria para seus alunos,
logo amanhã.
“mas onde estava a alegria
mas onde estava a poesia só sabia o sabiá. (...) - era um sábio o sabiá.”
Sidónio Muralha foi vanguarda na forma de
versejar para crianças. Inventou, brincou, inovou, deleitou. E permanece
ocupando um dos primeiros lugares
entre os que melhor escreveram poesia infantil, em língua portuguesa, no
século 20.
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PERDIDO NA PROSA EMPERRADA
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Sidónio Muralha
também se dirigiu às crianças pelas veredas da prosa e narrou nove histórias,
editadas em Portugal ou no Brasil.
O jornalista Luís Carlos conta - sempre
emocionado - aos seus netos O COMPANHEIRO e A AMIZADE BATE À PORTA (ambos de
1975) e CATARINA DE TODOS NÓS (de 1979). Relembra seu próprio fervor quando
da Revolução de Abril, faz sua voz ressoar mais forte e firme ao ressaltar o
discurso político, os males da colonização, a bravura da camponesa
anti-racista.
A professora Maria Lúcia não disfarça sua
irritação com o dogmatismo, o maniqueísmo, a discurseira político ensinante
destas histórias. Procura a poesia solta e sábia e só encontra a prosa
travada.
Luís Carlos considera fundamental o eixo de
VALÉRIA E A VIDA (1976), um brado contra a poluição nefasta. Não duvida, na
firmeza de sua crença convicta: tem que se conscientizar as crianças. Nada é
mais importante num livro que se quer e se pretende livro! Maria Lúcia se
espantou com a quantidade de frases feitas que encontrou nestas páginas, com
a ausência de sabor, de vitalidade...Se disse: ”decididamente não sou adepta
duma história que se encolhe e se estreita para dar passagem ao recado-da-
participação. Quero literatura, não manifestos. Para mim e para meus alunos.”
Em SETE CAVALOS NA BERLINDA (1977), Maria Lúcia
volteou surpreendida. Nas primeiras páginas soltura e leveza, seguidas dum
sensível lirismo. Logo empacou. O texto não a fez cavalgar, galopar, nem
trotar como os cavalos. Olhou ressabiada, dispensou a carruagem e pegou um
poético e colorido bonde que por ali passava e que prometia lhe fazer chegar
num lugar cheinho de gostosuras e belezuras. Encheu-se de saborosas
expectativas...
Luís Carlos guarda há anos, com especial desvelo
HELENA E A COTOVIA (1979). Sente-se comovido com os voos libertadores dos
pássaros. Encolhe-se na sua cinzenta poltrona e relembra quantas vezes se
deparou com estas imagens...Não, não se importa com a obviedade, com o
moralismo explícito, nem com os imensos e intermináveis parágrafos. Persiste
na sua insistência convicta: seus netos e todas as crianças-leitoras-do-mundo
ainda vão entender a amplitude da libertação dos pássaros e de todas as
espécies aprisionadas... Fechou o colarinho impecavelmente branco e refez o
nó da gravata.
Sidónio, uma vez perguntado, respondeu o que o
levava a escrever para este público: “É importante escrever para as
crianças e os jovens como um corredor de estafetas que passa o testemunho,
para outros prosseguirem, e depois sai do campo, apaga-se, desaparece, leva
com ele a certeza do dever comprido.” Ele optou pela tarefa, não pelo
deleite provocativo que a literatura pode trazer.
Publicou ainda OS TRÊS CACHIMBOS, um croquis
promissor dum texto não finalizado, o divertido O TREM CHEGOU ATRASADO e um
ambíguo A REVOLTA DOS GUARDAS CHUVAS, onde se debate entre o non-sense e a
chamada ensinante sobre os males da tirania, sem se resolver sobre o tom
buscante.
Sidónio declarou certa feita: “Tanto a prosa
como o verso para crianças têm que ter ritmo, têm que saber sentido de humor,
têm que saber brincar, encaixar as frases umas nas outras, têm que despertar
na criança o desejo criativo”.
A professora Maria Lúcia embasbacou quando leu
esta resposta. Empalideceu, enraivou. Achou todos estes elementos na poesia
do sabiá poeta. Não na sua prosa. Em alguns momentos encontrou um esboço de
humor, de non-sense divertido e soltamente brincante, mas sempre apegado a um
pano de fundo politizante. Não sentiu as frases encaixadas, escorrendo
deslizantemente pelas páginas impressas. Leu um texto sem fluidez, sem
envolvência. Não se seduziu, não embarcou e muito menos se viu com seus
ímpetos criativos atonados e aflorados. Encontrou personagens apenas
esboçados e o prosador preso, sem voar como já tinha mostrado que podia e
sabia em seus encantados poemas.
O jornalista Luís Carlos perplexou. Gostou sempre
destas histórias, exatamente porque não cediam às brincadeiras bobas e
alienantes e ressaltavam a seriedade dos assuntos focados. Fosse a luta
antifascista ou a antipoluição, a solução era sempre libertária. Mais do que
demonstrados, muito bem provados. Estes eram os temas certos para se falar
com as crianças, se repetiu. Gostou porque os personagens não se debatiam em
conflitos ou impasses, tão ao gosto dos moderninhos sem compromissos com a
luta maior. Gostou sempre porque os personagens não eram maiores do que a
história. Gostou sempre, porque a narrativa é simples, clara, caminha numa
reta que sabe onde vai chegar. Como todos os homens que lutam por um mundo
mais justo! Luís Carlos apanhou vários volumes da prosa escrita por Sidónio e
se dirigiu à casa dos netos para viverem, juntos, um entardecer esclarecedor.
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A EDITORA GIROFLÉ
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No
início dos anos 60, em São Paulo, alguns intelectuais e artistas portugueses
capitaneados por Sidónio Muralha, Fernando Correia da Silva e Fernando Lemos,
arregimentaram e se cercaram de vários profissionais liberais brasileiros e
de exilados portugueses e se reuniram para formatar uma editora absolutamente
original: a GIROFLÉ.
Nas
pequenas saletas, o clima era de permanente efervescência, febricitação,
criatividade impulsionadora e fazedora.
Pela
primeira vez, no Brasil, uma editora se dedicava exclusivamente a livros para
crianças... E que livros! Ousados no formato retangular, alongado, com um
projeto gráfico belo e requintado e belo, papel kraft, capa dura...
Lançaram
cinco títulos. Histórias ou poemas escritos por Cecília Meireles, Gerda
Brentani, Fernando Correia da Silva, Guilherme de Figueiredo e Sidónio
Muralha que por lá editorou o seu maior sucesso e também o maior sucesso da
Giroflé: A TELEVISÃO DA BICHARADA (posteriormente relançado por duas outras
editoras brasileiras).
Ilustradores
do porte de Maria Bonomi e Fernando Lemos, um livro exibindo fotos de Dulce
Carneiro no lugar de desenhos, mudava o conceito de ilustração do livro
infantil... Inovações em cima de inovações!
O
Boletim Pedagógico Giroflé sacudia a cabeça dos professores e pais, propondo
questões, levantando novas angulações, ampliando o conceito do que fazer e
suscitar nas crianças...Cartões postais reproduzindo desenhos infantis,
impressos em impecável qualidade gráfica, embalados em envelopes de design
avançado mostravam registros impactantemente coloridos do real olhar da
criança. Esteticamente educativos.
A
Giroflé buscou o humor, a leveza, o requinte, a formosura. A narrativa bem
estruturada, a escrita de qualidade. Trouxe autores e ilustradores que nunca
tinham escrito ou desenhado para crianças. Tratou a criança com atento
respeito por sua inteligência e percepção atilados. Deslumbrou gentes de
todas a idades. Inovou em tudo! Sua ousadia formal e textual (quase 40 anos
depois) ainda não foi alcançada por nenhuma outra editora e está longe de ser
superada.
Para
quem lida com livros infantis, a chegada destes arrojados intelectuais e
artistas portugueses, foi mais importante e impulsionante do que a de Cabral
com suas caravelas. Trouxeram, efetivamente, a descoberta!
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O SORRISO DE SIDÓNIO
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Sidónio Muralha foi um homem sorridente,
gargalhante, certo de suas certezas, entusiasmado, vital, por vezes arrogante,
como acrescentaria o jornalista Luís Carlos brindando com seus
amigos: Como ele gostava de mandar as suas pedradas no charco,
como a do BECO em 1941, poesia político-social quando a maioria dos poetas,
para não sujar as mãos, declamava em esferas metafísicas... Foi a exultação
da militância antifascista portuguesa.
E como agregaria a professora Maria Lúcia
: Ainda bem que surgiram poetas como ele, que abriram as portas e vielas
para que eu pudesse caminhar livre e solta por Lisboa.
Sidónio Muralha foi um enfático, sedutor,
arrebanhador de carneiros para se aliarem às suas inadiáveis teimosias,
generoso, cobrante, trabalhador, bon-vivant. Um homem dialético.
Escrevia sempre, onde estivesse. Em restaurantes
ou aviões, na escrivaninha ou em alguma sala de espera. Apanhava qualquer
papelucho disponível, um guardanapo de papel escondido, segurava sua
majestática caneta e se punha a versejar. Por puro e irresistível impulso.
Raro sair dum jantar, com ele, sem levar - na bolsa - um poeminha divertido,
sarcástico e sintetizador do acontecido na noitada.
Sempre foi um correspondente contumaz. Avalanches
de cartas para amigos anônimos ou afastados, para escritores famosos, para
toda e qualquer criança que com ele quisesse conversar.
Íntegro, solidário, definiu assim a sua rota:
“Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço. Se carácter custa caro pago o preço.”
Pagou!
__________________
(1) Em homenagem ao
falecido marido, a Dra. Helen Butler Muralha organizou e dirige
a Fundação Sidónio Muralha
Rua Desembargador Westphalen, 1014 (80230- 100) - Curitiba - Paraná - Brasil
(2) Soeiro Pereira
Gomes, que também trabalhou e viveu em África, escreveu um romance
notável, ESTEIROS, na beira-Tejo os meninos sem infância. Morreu, de mal
incurável, durante a clandestinidade antifascista, solidão.
No II Encontro De Literatura Portuguesa Para Crianças acontecerão
leituras públicas da obra de Sidónio Muralha, uma gentileza da Fundação
Sidónio Muralha.
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Instalação
“Tributo à Sidónio Muralha”
Convite especial:
Exposição
Virtual de Artes Plásticas, Fotografia e Poesia:
A Exposição
Virtual de Artes Plásticas, Fotografia e Poesia: Expedição Caravelas - Conexão Santos-Coimbra; almeja inserir as artes
plásticas, a fotografia e a poesia como
instrumentos de mobilização socioambiental entre os jovens cidadãos da cidade
de Santos, que prestam uma homenagem poética à Cidade De Coimbra, Cidade do
Conhecimento, Cidade dos Estudantes. Homenageando Portugal com as cores
vibrantes do maior Porto do Brasil, através de um programa de intercâmbio e
difusão cultural denominado Expedição Caravelas 2013.
Exposição da Coleção de Cartões Postais “12 Retratos do Porto de
Santos” com reproduções de Pinturas Originais realizadas por jovens da Rede
Pública Municipal de Ensino Fundamental I e II de Santos do Projeto Coeducação
de Gerações da Organização Neo Humanitarismo Universalista, ONH-U, com a
Coordenação Artística do artista plástico, fotógrafo e poeta Amorim, graduado
em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo.
Exposição
Fotográfica Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Santos
– Fotógrafo: Amorim
Poemas de Teresa Teixeira, Embaixadora Oficial do II Encontro De
Literatura Portuguesa Para Crianças
TERESA TEIXEIRA
EMBAIXADORA OFICIAL DO II ENCONTRO DE LITERATURA PORTUGUESA PARA
CRIANÇAS
Teresa Teixeira, Embaixadora Oficial do II Encontro de Literatura Portuguesa Para Crianças.
Portuguesa,
vive no Brasil há mais de 30 anos. Com ampla experiência internacional, residiu
em vários países; tem estudos em Pedagogia, especializações em Educação,
Interfaces, Religião, no Brasil. Estudos em Ciências do Trabalho, Graduação e
Mestrado, na Bélgica, e em Política, na Rússia. Em sua vida profissional pode
estender estes conhecimentos ao Turismo de Eventos, no Paraná. Atualmente,
reside em Santos e dedica-se à literatura, poesia, em arte digital.
Celebrando a Literatura Infantil Portuguesa na cidade de Santos com participações especiais de:
Luciana Mello, Coordenadora da Biblioteca Hans Christian Andersen de São Paulo apresentando "Contos Populares Portugueses."
Festa literária portuguesa com o Grupo Poetas Vivos de Santos.
Apresentação: Jam Pawlak, Presidente da Organização Neo Humanitarismo Universalista.
Projeto Leia Comigo da Fundação Educar
DPaschoal
Fundação Sidónio Muralha
O Mundo Encantado das
Brincadeiras Portuguesas:
Amarelinha, Peteca, Pula
corda, Brincadeiras de roda!
Passeio Literário com a Boneca
Emília da obra de Monteiro Lobato na Exposição Estação Da Língua – Museu da
Língua Portuguesa em Santos SP
Concepção & Realização:
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